A urgência do feminismo negro e o cotidiano da mulher preta!



Quem tiver estomago, capacidade emocional, veja esse vídeo que circulou essa semana pela internet (clique aqui).

Eu vi, mas sem ouvir o áudio, ai sem querer cliquei em cima para copiar o link e ouvir os gritos da moça e o barulho do choque da madeira contra o corpo dela.

É sabido, que a violência doméstica não é exclusividade dos pobres e negros, mas sim uma praga que corta a sociedade burguesa e patriarcal de ponta a ponta.

Obviamente, as mulheres negras estão mais vulneráveis a violência doméstica, pela sua própria vulnerabilidade e marginalidade.

Recentemente, participei de um debate sobre o feminismo negro e Angela Davis, e sai de lá com um sensação de  E agora?

Me lembro, que a dez meses atrás, quando comecei a ler sobre a Angela, um dos primeiros videos que assisti dela, dando uma entrevista, ela contava como se encontrou com o feminismo. Narrava, que havia conhecido o feminismo quando ainda morava na Europa, e que ao retornar aos EUA, ao se deparar com o feminismo branco, reivindicando o acesso ao mercado de trabalho, pensava: nós, negras, já estamos no mercado de trabalho desde a escravidão, não é disso que precisamos.

A partir de então, grande parte de sua atuação no Panteras Negras (sua tarefa dentro do Partido Comunista), era a de contribuir para a organização e emancipação das mulheres negras dentro do movimento.

Angela, narra, que uma das coisas mais importantes, era a de resignificar e discutir com os camaradas o papel e a relação de opressão (muitas vezes fisicamente) atribuída as mulheres negras.

Castigos físicos, obrigatoriedade do trabalho doméstico, submissão sexual eram (ou são) alguns dos problemas enfrentados pelas negras no interior dos Panteras.

O papel de destaque da Angela, em relação aos Panteras, era devido sua atuação junto a eles, ser uma articulação do PC dos EUA com a direção do grupo. Inclusive, há rumores, que quando a direção, disse a Angela: ou sai do PC ou não poderá mais participar conosco, foi devido uma parte dos dirigentes homens (homens aqui é até redundante), estarem incomodados com sua atuação politica, e a insurreição que ela estava estimulando nas negras dentro da organização. 

Nem todo mundo sabe, mas Marcuse, foi uma figura importantíssima nos processos de mobilização nos EUA e na EUROPA, naqueles anos 60, pois não acreditava que descrever a realidade era o suficiente para muda-la. 

Angela, que foi uma de suas alunas prediletas (senão a favorita), também acreditava nisso, e defendia, que todo conhecimento sobre a opressão da mulher negra, só seria útil, se pudesse instrumentalizar a libertação de todas as negras: as acadêmicas ou as analfabetas, as doutoras ou as domésticas, toda e qualquer mulher negra, de todo o mundo.

Nesse exato momento, outra e mais outra e mais outra mulher negra está apanhando com um pedaço de madeira de seu marido, amante, cafetão, dono. Nesse exato momento, outra e mais outra mulher negra está sendo tratada como um animal na mesa de parto. Neste exato momento, outra e mais outra mulher negra não pode ler esse post, por que não poder ter acesso a escolarização e ter garantido sua permanência na escola. Nesse exato momento, outra e mais outra mulher negra, está presa no fundo de uma cela, por que levou droga na buceta para seu companheiro em alguma prisão, por que tinha medo de morrer....

Nesse exato momento, outra e mais outra mulher negra, chora a morte de seu filho, ocupa o pior posto do mercado de trabalho, está sendo violentada em algum rincão do planeta Terra.

E você feminista negra, acadêmica, letrada, doutora, está fazendo o que para mudar isso?

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