Mais valia do lar



Talvez, muitas mulheres ou homens que leiam esse escrito, não compreendam o quão degradante e opressor é o trabalho doméstico,e até achem que estou exagerando, afinal alguém tem que lavar, passar e cozinhar, e isso é muito nobre não é mesmo?  Todo mundo precisa de casa limpa, comida e roupa não é mesmo?
Mas façamos um exercício. Vamos imaginar, que não houvessem as mulheres para cuidar da casa, dos filhos e dos doentes gratuitamente. Vamos imaginar que os patrões tivessem que pagar para alguém realizar essas atividades.
Quanto se cobra para cuidar de uma criança, decentemente? Incluindo as noites de sono perdidas amamentando , os cabelos brancos de preocupação, o esgotamento de nervos com as birras infantis, as horas cozinhando papinha e trocando fraldas? Uns 800 reais é o suficiente? Digamos que sim.
Quanto se cobra para lavar louça, cozinhar, limpar a casa, lavar a roupa, passar a roupa, tirar o pó, limpar os armários e os azulejos, lavar o banheiro,aspirar a casa duas vezes por dia, aguar as plantas, organizar os brinquedos,arrumar os lençóis, trocar o lixo e as toalhas do banheiro, fazer a lista de compra e de feira, ir ao mercado, arrumar as capas do sofá? Uns 1000 reais é suficiente? Digamos que sim.
Quanto se cobra para levar um doente ao médico,tirar sua temperatura de hora hora em hora,administrar a medicação na dosagem e horário correto, dar banho,trocar as fraldas, cuidar do bem estar do doente? Uns 1200 reais é suficiente?Digamos que sim.
Quanto se cobra para levar as crianças na escola, acompanhar a lição de casa, ir nas reuniões de pais, costurar o uniforme,verificar se tem as coisas do lancinho  arrumar a bolsa e a lancheira,resolver as brigas com os coleguinhas,consolar pelo fim do namorico, levar no cinema, buscar da balada? Uns 800 reais? Digamos que sim.
Agora, quanto sairia se fossemos pagar mensalmente para cada mulher que executa todas essas tarefas um salário? Ela receberia um salario bruto de 4600 reais,porém, devo lembra-los que esse é um trabalho que não tem adicional noturno, nem adicional por insalubridade,sem ferias,folgas, descansos, horário de almoço. São 24 horas por dia, 168 horas por semana, 720 horas por mês, 8.760 horas por ano, durante toda a vida adulta de qualquer mulher que tenha filhos e não possa pagar para alguém fazer aquilo que culturalmente se destinou como sua função no modo de produção capitalista.
O trabalho doméstico não remunerado,desqualificado, desrespeitado, desvalorizado,porém, extremamente necessário para que os trabalhadores consigam produzir cada vez mais, nunca é criticado ou teorizado pelos  marxista e pelas feministas.
O trabalho doméstico é uma especie de mal necessário, mesmo que seja algo completamente alienante para a mulher.
Se estivermos numa roda de bate papo com intelectuais, e uma mulher disser que sabe cozinhar ou lavar,a olham com cara de: grande coisa. Mas, quando um ilustre intelectual,abre a sua magnifica boca,e diz que sabe cozinhar, já se ouve: oh, fulano cozinha, que magnifico, que belo, que homem.   
Isso sempre me deixa irritadíssima,e eu sempre me pergunto: porra por que até nisso, os homens são mais valorizados. Ele não deveria saber cozinhar uai, como todo mundo deveria, homens e mulheres?
Mas é como,se ele saísse da sua grandiosa pose de racional e objetivo,e se permitisse fazer uma coisa tão simplória e coisificada como cozinhar, e isso faz dele uma pessoa altamente evoluída.
Quem desenhou a tirinha acima, teve uma excelente sacada (e eu espero que tenha sido uma mulher), por que todas nós somos oprimidas e/ou exploradas nesta sociedade. E,os homens, sempre levam vantagem disso. Quer eles queiram ou não.
Conheço homens coerentes com suas posições políticos e ideológicos, mas ainda assim, só são coerentes, porque suas companheiras exigem essa postura fazendo com que eles assumam o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos/as como uma tarefa politica também.
Qual o meu desejo de ano novo?
Mais coerência e consequência por favor, principalmente entre os revolucionários e as revolucionárias de bom coração.

Ps: Uma boa dica de leitura,é o livro Se me deixam falar... de Moema Viezzer.

Comentários

  1. Acho injusto dizer que as feministas não valorizam o trabalho doméstico qd vários coletivos defendem a valorização do mesmo e o reconhecimento de seus custos na produçõ social total, como viabilizador, da mesma forma que vc descreveu.

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    1. Oi Carol, vou te dar dois exemplos práticos sobre minha questão em relação os movimentos feministas não discutirem como se deve o trabalho domestico. Militei muito anos no setor feminista do PT, depois militei no PSTU e tbm no mulheres em luta. Em nenhum desses movimentos, nas cartilhas dos programas, há um ponto especifico sobre o trabalho domestico. Claro que os marxistas dos velhos tempos como o Lênin por exemplo, vão dizer lá meia duzia de palavras sobre o quão alienante é o trampo domestico seja como emprego seja como tarefa social da mulher. Mas, um grupo de feministas contemporâneas, que se sentaram e discutiram o caráter do trabalho domestico: racismo, exploração, a própria condição das mulheres trabalhadoras oriundas dos setores mais pauperizados da classe, isso não existe.Quantas mulheres negras, militantes feministas, quadro políticos, dirigentes vc conhece? Enquatos encontros de debate sobre o trabalho doméstico, durante sua militância feminista vc já foi? Quantas vezes vc viu, uma roda de discussão, uma plenária de uma organização politica, onde militassem homens e mulheres, cujo ponto de pauta principal fosse a construção de estrategias para divisão paritária do trabalho domestico entre os casais desta organização? Quando qualquer organização politica revolucionária, tomou para a sia a responsabilidade de formar seus militantes em relação as questões femininas, e se propôs a discutir politicamente o trabalho domestico e suas implicações para o atraso politico das camaradas? Eu nunca vi. E olha que são 17 anos de militância politica, dos quais ao menos dez no feminismo. Portanto, quando digo que não há essa preocupação, é disso que me refiro. É mais importante discutir as relações sexuais livre, do que discutir o trabalho domestico como forma de controle, opressão e alienação da mulher. Abraços.
      Ps: a maioria das feministas estão cagando e andando pro trabalho doméstico,porque muitas delas nunca lavaram um copo em sua vida. Aquilo que não conheço, não me preocupa.

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  2. "NUNCA é criticado ou teorizado pelos marxista e pelas feministas"
    Como assim? Rosa Luxemburgo, trotsky, lenin e principalmente KARL MARX E ENGELS, fundadores do marxismo, faziam um estudo aprofundado sobre a divisão social do trabalho.
    Inclusive se tu te deres ao trabalho de ler alguma coisa, antes de sair expondo despropositadamente sua opinião, com termos generalistas como "sempre" e "nunca"... uma boa leitura é "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" de Engels, que tem um vasto apanhado histórico, e deixa bem mais claro qual é a posição do Marxismo sobre as mulheres.
    Inclusive o marxismo coloca a divisão de trabalho entre homens e mulheres como a primeira divisão de trabalho existente... e a estuda com esta importância.
    Isto sobre os marxistas... e sobre as feministas eu nem vou me dar ao trabalho de elencar aqui nomes feministas, inclusive contemporâneos, que fazem este debate maravilhosamente bem!

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  3. Jaque Conceição15 de janeiro de 2013 07:38
    Não costumo responder os comentários aqui no blog, porque acho que as pessoas devem escrever o que quiserem e a idéia não é fazer um debate. Bom, pra começo de conversa, sou marxista, feminista, comunista e revolucionária. Li todos esses livros que vc citou acima, e alguns outros que talvez vc não conheça cara Maria Fernanda. A minha questão, e é uma critica a nós mesmas que faço, é que não há uma preocupação das feministas marxistas em discutir o trabalho domestico contemporâneo e nem seu efeito sobre a militância das mulheres. Há algumas citações desses cabras que vc citou e das mulheres também, mas não um aprofundamento. O resultado? Em sua grande maioria, só as mulheres da universidade ou da classe média que se ocupam de discutir a opressão. Justamente pelo fato, de terem tempo livre para tal. Outra coisa (e estou supondo que vc deve ser a tal Maria Fernanda do RLi que me chamou de estapafúrdida), é que se vc acha que o material do blog é tão ruim, pq perde tempo lendo? Minha sugestão para vc, é que vá fazer outra coisa, ao invés de encher meu saco com sua mania de brincar de professora. A menos que você seja uma pesquisadora doutora em estudos feministas marxistas,por favor, não encha meu saco e não deixe comentários ridículos e desnecessários. O blog é pessoal, e até que o Blogger me bloqueie,escreverei o que eu quiser. Abraço.

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